giovedì 28 maggio 2009

exposição "Maravilha"... a novela



Dia 13 de maio, dia de Nossa Senhora de Fátima (será que isso foi fatal para uma agnostica como eu!), foi inaugurada a exposição "Maravilha" no Centro Cultural Dragão do Mar em Fortaleza.
A expo já começou com vários problemas... como qualquer coisa nesse país.
Foi convidada pelo Memorial da Cultura Cearense no começo de março. Era para abrir a expo "logo já" em abril. Aos poucos ela foi adiada... metade de abril, final de abril, começo de maio, dia 12 de maio e enfim dia 13... aí ficou. Graças à Deus, como se diz por aqui... ou melhor como eu acho, graças às negociaões das "politicagem" (bem mais poderosas que qualquer "deus").
Então lá vou eu com minha expo. Durante a montagem enfrentei alguns problemas: teve que colocar uma lista inacreditável de logomarcas de empresas que nada fizeram para mim. No final das contas, o Dragão ofereceu o espaço e o coqueteil (somente porque caia no mesmo dia do fechamento do seminário sobre Comida do Ceará). A Coelce quis aparecer somente porque assinou um papel onde dizia que liberava a entrega de algumas geladeiras velhas. Quem pagou o frete foi eu. O Sesc-Fecomercio - pelo que eu sei os emprendedores daqui.. verdade que tem a crise, mas...são um bando de mão de vaca!!!! - "emprestaram" umas cestas básicas que devo devolver no final da expo.
No dia da abertura (e em seguida tmb) notei a escassa presença da classe dos fotógrafos, que nessa terra gostam de dar beijinhos e fingir ser "politically correct" na vossa frente, mas que tentam boicotar tudo por causa de alguma "invejinha" pessoal... "Amigos" que convidei na abertura falaram estar muito atarefados e que "um dia desse"  passariam por lá. Em duas semanas não passaram e nem tem intersse (pior pra eles). 
Nessa terra abençoada só consegui vender uma meia duzia de livros... livros todos bancados por mim, sem a menor ajuda de custo desses editais que estão por aí e que a gente ganha facilmente (sempre tem alguns na commissão que conhecemos...) Eu vendo meu livro por um preço que nem cobre os custos, mas... Ahi, quando eu falo isso o povo responde, se vc fez é porque vc pode... eu retoco, se eu fiz é porque eu quis... 
Enfim.. vc pode pensar que sou meio negativa e paranoica... pode até ser.
Como eu disse a um amigo, gosto de beber um vinhozinho à noite mas... eu sou e continuo sendo uma pessoa muito responsável, correta e direta (no sentido, falo as coisas que penso na cara de qualquer um... não tenho nada a perder, essa é minha força)
Chegando ao dia de hoje.. 
Ontem, infelizemente, eu perdi meu dia atrás da Tv Cultura. Não serviu a muito.. 
Vou explicar.  A tv me contatou para fazer uma matéria com as pessoas da Maravilha falando sobre a experiênça de serem fotografadas por mim, minha idéia etc etc..
Os reporteres da Tv chegaram atrasados de uma hora, mas antes enviaram uma "força policial" de apoio: na Maravilha apareceram dois policial armados até os dentes (teve a impressão de estar no Afganistão!), logo depois chegou a Ronda e enfim alguns outros policiais, todos armados e protegidos como se estivessem acompanhando um tiroteiro entre gangues... quando estavamos só fazendo uma reportagem socio-cultural numa ONG cheia de meninos.
Depois de uma hora de espera, apareceram os reporteres... mortos de medo pois eu os conduzi nos labirintos da Maravilha até o terreiro da Dona Maria, que se vestiu com a mais linda roupa de Mãe dos Santos, vermelho e azul, para depor na entrevista... Adorei e fiquei comovida!
Em seguida acompanhei os reporteres até o Dragão do Mar. A minha expo estava interditada pois o teto desabou. E com essa chuvinha que está caindo na hora que escrevo acredito que daqui a domingo desaba tudo de vez..

Depois de mais uma hora esperando, os responsáveis do Dragão do Mar se apresentaram e disseram que só tinha uns "pinguinhos" prejudicando a expo. Nem eles sabiam de nada... 
A informação na era da infomática não vai muito longe não!!! Todos tem celulares, são conectados, mas no final não sabem - ou não querem saber - de nada.
Como me disseram... o problema é que essa é a terra da luz e do sol!!! 
Aqui nunca chove e por isso o Senhor Arquiteto que construiu aquele espaço onde está minha expo não tem culpa. Nem ele, nem ninguém. A culpa é só de Deus: por aqui nunca chuveu tanto!!! DEUS ESQUECEU QUE ESSA É A TERRA DA LUZ!!!! 
Cassete, todo mundo continua falando isso que esquecemos de estar num país tropical, onde existem sim chuvas fortes e enchentes... Só porque são raras não significa que elas não existem!!!!

Enquanto estou escrevendo uma boa chuva continua caindo lá fora. 
Deus quer se vingar das minha palavras. E eu queria me vingar dele e de todos os "poderosos" que se aproveitam de nos.

ps: a TvC no final hoje nõ passou a matéria que tinha prometido.
Não sei se isso deve-se à hora tardia em que foi feita a gravação ou à outros problemas técnicos....

Vamos aguardar o novo roteiro dessa novela...

Depois de dois dias fechada por "causas técnicas", a exposição Maravilha foi reaberta e continua em cartaz no espaço Multiuso até domingo, dia 31 de maio de 2009... se antes não desabar o teto completamente!!!! 


 

lunedì 18 maggio 2009

DIA DAS MÃES









um pouco atrasado, mas nem tanto, visto que todos os dias é o dia das mães!!!

sabato 16 maggio 2009

EXPO "MARAVILHA". 13 de maio de 2009

chegou a hora:
exposição prontinha...
ENTREM NA BOCA e sejam bem...DIGERIDOS!!!











lunedì 11 maggio 2009

"MARAVILHA" , uma entrevista

uma entrevista on-line, realizada pelos alunos da UFC (Grupo de Estudo da Fotografia da Universidade Federal do Ceará)
lá vai

Será que vou estragar a surpresa final deles? Me perdoem... mas sou uma pessoa impaciente..
foi publicada alguns dias depois no http://caixaclara.wordpress.com

Oi Francesca,
tenho um blog junto com a Analice onde escrevemos sobre fotografia. Ainda estamos no início, mas queremos focar a produção do Ceará e levantar algumas discussões sobre fotografia. Aproveitando que "Maravilha" será lançada na prox. quarta-feira e que o Silas soprou que você vai se mudar, decidimos propor uma entrevista contigo via e-mail pra saber mais da sua experiencia no trabalho da Maravilha e dos seus posicionamentos enquanto fotógrafa. São sete perguntas, que mandamos via anexo.
Seria legal se você respondesse. Acho que levantaria umas boas questões. Será publicado no nosso blog, no dia da estreia da exposição Maravilha - que nós iremos, por sinal.
Abraço,
Yuri e Analice.


Olaaa que chique!! entervista via mail

Só se vc prometem mesmo que vão na abertura. De outra forma ... não garanto a entrevista
Pelo que eu vi tem questões bem delicadas que vc me estão pondo; não sei se consigo responder "politically correct" a todas
algumas me dão vontade de colocar um ????? não sei, mas vamos lá!!!
Vou tentar ser "objetiva" que nem uma 35 mm canon ou nikon... a vc a escolha


"Silas soprou que você vai se mudar"
Vou sim, só faltam menos de dois meses... probls famaliares (sempre e bom culpar aos outros) e também de relacionamento entre "eu"/ o mundo e "eu " /comigo mesma


1) Francesca, você fala que a Comunidade Maravilha te acolheu com generosidade e alegria. Depois do trabalho, você tem muitos amigos por lá? Como é a relação com as pessoas de lá? Tem alguma que te chame atenção em especial?

"Conheco" a comunidade desde 2001 (fevereiro) quando a visitei pela primeira vez. Digo "conheco" pois esteve lá nessa epoca pela primeira vez. Até hoje não sei ao exato o que eu conheço e o que eu des-conheço.
É uma realidade muito diferente da minha... europeia, burguesa etc etc... mas... eu me sinto tmb diferente - e muito - dos burgueses daqui, dos da Itália, da minha mesma família... enfim... me sinto , sei lá, numa realidade que e só minha, talvez, que nem existe se não na minha cabeca... não sei explicar ao bem.
Quanto a generosidade e a alegria... condivido um pouco da vida de algumas pessoas da Comunidade, que se tornaram, não posso dizer amigas, mas pelas quais sinto muito carinho. Contam pra mima histórias, muitas vezes não entendo nada das palavras -problemas de sotaque- mas entendo os gestos e o afeto... as idéias .. dificil entender... é muito complicado explicar tudo isso numa mail... sei lá. Não são amigos, são pessoas com as quais tento fazer algo, brigo (sou muito briguenta) para melhorar algo, pessoas que, ao mesmo tempo que eu ajudo elas, elas - sem nem saber, as vezes- me ajudam muito mais, pois me deixam entre-ver uma "realidade" diferente, uma alternativa a esse mundo ... sei lá o que... esquisito???

Não para me achar, mas - como fiquei super comovida quando a recebi - vou repassar a carta que a "Pequena Avril" me enviou alguns dias atrás, quando ela soube que vou me mudar. Isso tem a ver com a alegria, a generosidade e o amor.
O nome dessa minha ex- aluna, hoje professora de flauta (mas ela é tmb uma otima fotografa) é Camila Souza, em arte Pequena Avril
A sua é uma música - a minha querida amiguinha me desculpe pois não prestei a devida atenção - de não lembro quem... A minha Pequena trocou as palavras


"Como poder ser, morar longe daqui?
Pois graça a vc o Clica nasceu
Fico só pensando que foi vc chegar
Que na Maravilha uma benção aconteceu

Peço tanto a Deus, obrigada para te conhecer
E as nossas bagunças vc suportar
E aqui conosco vc sempre está
E todos esse anos vc nos alegrar

De todos os gritos que vc já deu
Qual foi que a gente mereceu?
Mais tudo bom, deixe pra lá
Só o tempo vai nós dizer

Quero te dizer em nome de todos aqui
Um "big" obrigado bem legal
Isso não é puxa saco não, é só pra dizer
Que iremos sentir saudade de vc
São tantas crianças que na fotografia
Descubriram um jeito melhor de viver
Se o pouco, que temos, deixar a gente feliz
Isso tudo è graça a vc
Isso é graça a vc, isso é graça a vc

Qual a maior alegria que podemos ter na vida? Tudo isso é a mesma coisa de quando meu filho me diz "Te amo, mamãe"

Muitas vezes eu recibo, de um ou do outro, na Maravilha, uma carta parecida. A maior parte das vezes acho que nem mereço tudo isso. O problema aqui, é que a maior parte das pessoas são carentes - carentes de dinheiro, trabalho, comida etc - mas sobretudo carentes de afetividade, de alguém que as escutes e que as considere "gente".

2) Você acha que é possível salvar o mundo através da fotografia ou os fotógrafos só estão realmente preocupados com o próprio umbigo?

Hoje como hoje a foto não salva ninguém (vou ter muito inimigos pelo que estou afirmando)
Não vou falar de coisas que já coloquei no meu blog. Leiam o que já escrevi e decubram o que eu penso.

3) O que te motivou focar teu trabalho na temática da comida especialmente na Maravilha?

Na Maravilha eu trabalho. Então, como sou pigriçosa, escolhi a via mais simples...
O "Fome Zero" da campanha Lula despertou logo meu enteresse quando cheguei, pois é muito parecido a uma campanha de jeans de Dolce Gabbana o da Levi's...propaganda eleitoral com a ajuda dos "best" daqui e do mundo (Xuxa, Lenny Kravitz, Beckmann, Coca-Cola, BNB, Exercito Brasileiro, Parada Gay, Gisele Bundschen , só pra lembrar alguns que deram seu apoio e seu nome a esta campanha)

4) Você já devorou a Maravilha?

Já ... acho que todos nos somos meios canibais... mesmo quando nos não nos damos conta disso...o meu livro e minha expo que abri essa semana são uma obra meio "cannibal": a exploração de uma gringa de um mundo que é , mesmo perto, muito distante...

5) E a Maravilha já te devorou?

Tentou... mas eu sou indigesta

6) Você defende que as fotos dessa exposição são um retrato pessoal de quem mora na Comunidade. Por que a opção pelo Centro Cultural do Dragao ao invés da própria comunidade da Maravilha?

Essa obra é um retrato pessoal meu, somente meu. E.... como eu sou chique, burguesa, européia, quis expor num lugar chique da cidade
PS: o pimeiro lancamento do livro foi feito na Comunidade Maravilha. Convidei alguns "fotografos-criticos- midiaticos" de fora. Ninguém apareceu...

Já vi lançamento de livro e expo vazias tmb no Dragão do Mar....
A pergunta a se fazer é outra. Cadé a cultura e o pensamento crítico por aqui?
Porque a maioria das pessoas (vamos dizer logo, sem pelos na lingua, "fotografos" -pois eu lido com fotografia- ) não vão nas expos dos colegas e todos tem algo a dizer um contra o outro no lugar de se confrontar de verdade, deixando os egos de lado e fazendo algo mais construtivo?

7) Em breve você estará de mudança para a Europa. O livro Maravilha é alguma espécie de despedida? O que não te faz querer explorar mais o Brasil?

Sim, essa é minha despedida, infelizemente ou felizemente... ainda não digeri essa parte.. não sei ao bem o que será de mim
Explorar o Brasil???? Tentei... mas, se VC fala em "explorar" parece até coisa positiva - "conhecer", "investigar"- .. se eu falo em "explorar", a mesma palavra assume significados diferentes

giovedì 7 maggio 2009

LANÇAMENTO DO LIVRO E EXPOSIÇÃO "MARAVILHA" em Fortaleza

Convidamos para a abertura e o lançamento do livro "Maravilha" da fotógrafa Francesca Nocivelli

Quarta feira, dia 13 de maio de 2009, às 19hs. Sala multiuso do Centro Cultural Dragão do Mar, Fortaleza.

Entrada gratuita. Durante o lançamento e todo o período da exposição, estaremos arrecadando alimentos não perecíveis para a Instituição CCfs (Casas da Convivencia Familiar) da Comunidade Maravilha.





“MARAVILHA”

A comida é matéria prima para o bom funcionamento do nosso corpo e a alimentação faz parte do universo de nossas sensações. No mundo todo, o ato de comer - ato fundamental, fruto de uma necessidade - é também um ato de socialização. Em várias civilizações os alimentos adquiriram significados simbólicos ou religiosos, definiram regras de identidade e até mesmo hierarquias sociais. Historicamente, comer sempre foi muito mais do que uma questão de sobrevivência e os costumes alimentares revelam culturas e sociedades.


O direito à alimentação é um dos princípios proclamados, em 1948, pela “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. O Programa Social de Combate a Fome - Fome Zero -apelando a esse direito conseguiu criar, durante a campanha eleitoral que levou Lula a Presidência da República, uma “consciência igualitária” nos corações e nas mentes dos brasileiros. 

O nome do projeto tornou-se, no Brasil, uma espécie de “selo de qualidade”: centenas de empresas, públicas ou privadas, grandes ou micros, pegaram carona na onda nacionalista anunciando, cada uma a sua maneira, adesão ao programa: graças à ele conseguiram aumentar razoavelmente suas vendas! 

Na onda do Fome Zero foram idealizados novos projetos: Sede Zero, Desmatamento Zero, Desemprego Zero, Violência Zero, Lixo Zero, Corrupção Zero...

A partir de reflexões críticas sobre esse fenômeno, Francesca Nocivelli desenvolveu o ensaio fotográfico “Maravilha” realizado na homônima Comunidade. O trabalho é o resultado de uma pesquisa sócio-antropológica focada no tema da alimentação, tentando abranger seus múltiplos aspectos: como, onde, o que se cozinha e se come, onde estão estocados os alimentos... 

A Comunidade Maravilha é situada por trás da Avenida Borges de Melo (Bairro de Fátima, Fortaleza). Ela existe há 50 anos e é formada por cerca de 600 famílias de baixa renda, a maior parte das quais se enquadra perfeitamente no programa Fome Zero do Governo Federal.

Essa obra quer dar “água na boca”: é uma homenagem de Francesca a essa maravilhosa Comunidade, que a acolheu com generosidade e alegria.



Francesca Nocivelli nasceu em Brescia (Itália), é Doutora em Arquitetura e formada em Fotografia na École des Métiers et de l’Image MI21, (Paris- França). 
Atualmente mora em Fortaleza onde, em 2001, fundou o projeto ClicaMaravilha. Trata-se de um curso gratuito de fotografia destinado a crianças e adolescentes em situação de risco, instalado na OSCIP CCFs* Maravilha.

*OSCIP:Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (lei 9790/99)
CCFs :Casas da Convivência Familiar www.ccfs.org.br

sabato 2 maggio 2009

MARAVILHA -1 preparativos


estou enlouquecendo... para preparar minha expo
daqui a duas semanas
preparam-se!!
vai dar água na boca

e depois da carta... uma foto


a foto não é de minha autoria
É da Cleciana, minha aluna de 12 anos de idade
adorei e acho tem a ver com minha carta anterior
Achamos sempre que " o povão" é sem culura
olhem aqui!!!

Carta aberta ao Senhor Carlos Carvalho - FESTFOTOPOA- e outros pensamentos sobre inclusão visual



21 de abril de 2009-04-22
Dia do Tiradente... eu estou tentando tirar o meu, de dente, que está doendo 
(na Itália se diz: tirado o dente, tirada a dor!)

Hoje era para eu estar lá, no Festival... nunca cheguei... problemas de comunicação... (vamos chamá-los assim)
Eu tinha que apresentar essa palestra... sobre inclusão, educação ou sei lá o que. Enfim... assisti de longe, na internet. Quem se apresentou foram o Ripper e sua escola da Maré e o Boca de Rua. Dois projetos ótimos. Nada contra, mas eu tenho sempre minhas duvidas e questionamentos...
O Ripper falou longamente da escravidão, da favela, da marginalidade, de um monte de problemas que afetam a sociedade brasileira, sociedade que tem como seu maior representante um presidente que é “O Cara!”, que vem do Nordeste, da pobreza, cuja infância reflete-se nos velhos pretos e brancos do Glauber Rocha, ou nos atuais de Padilha com seu filme escândalo “Garapa” - criticado ou exaltado nos festivais por aí - 
... Enfim, concordo que tem nessa sociedade um grande problema, que é a in/diferença entre as classes sociais, problema não somente do Brasil mas de uma grande maioria dos países nesse mundo.
Não sou ninguém para puder falar ou criticar .. sou da classe médio alta, gringa, que passa ao lado de tudo isso.
Mas... muita vezes me pergunto... as críticas da maioria são sempre as mesmas... ao poder, a polícia, a economia capitalista etc. etc. Tudo verdade, nada contra, mas quem, nos nossos países democráticos, colocou esses poderes lá? Já ouviram falar de eleições? 


©ClicaMaravilha: Isso é Democracia

Para o que concerne a fotografia e os projetos sociais a elas ligados... “Devemos fazer dum jeito que a população se toque.. se toque que ela é instrumentalizada pelas mídias”. Assim eu escuto dizer muitas vezes...
Exclusão visual, inclusão digital... todos gostam de falar disso.. Porque atacamos sempre um “Governo” meio fantasma, um Estado que não tem nome nem forma, Porque falamos sempre mal nas costa de nosso inimigos e sorrimos pra ele quando está na nossa frente? Porque somos, quase sempre, meios covardes e ao mesmo tempo meios heróis? Criticamos o poder público (que é público, ou seja, somos nós mesmo), e corremos atrás dele pois precisamos do seu/nosso dinheiro para fazer algo que nós dará comida e vida confortável...
Porque criticamos a classe média que dá o celular aos seus filhos de 4 anos, mas não criticamos os “favelados” que dão um celular aos seus filhos? Acham que isso é falso? Entrem na favela pra ver... Minha "secretária" tem 3 celulares (TIM, OI, e Claro), eu só tenho um e acho que já suficiente. Meus alunos da favela chattam no Orkut diariamente e eu não entendo porra nenhuma dessas coisas (sou burra? pode ser). Porque estamos colocando na cabeça deles que isso faz parte da tal inclusão e que através disso eles irão ser mais inteligentes e capazes?


© Ana Clécia de Paiva- ClicaMaravilha

A internet e as relações virtuais podem sim ser capazes de transformar algo, de melhorar algumas coisas, mas.... sei lá.. sou de uma geração velha que tem problemas a entender uma relação que não seja física ... o virtual ainda me deixa assustada.

Eu ensino fotografia há quase 9 anos na Maravilha. Meninos e adolescentes de favela. Pouca instrução. Problemas sociais, problemas psicológicos, de relacionamento etc. etc.
Olhando as fotos por eles produzidas, fico de boca aberta. As fotos desses meninos me fascinam, me surpreendem, como surpreendem a muitos, pelos enquadramentos, pela forma de olhar, pela espontaneidade, pela ingenuidade... mas estou começando achar estranho quando falamos que essas fotos surpreendem pois os que a fizeram são meninos, gente de favela, gente que não tem - ou parece não ter- a menor educação visual.. esse é um erro nosso, dos ditos “intelectuais”, estudiosos da imagens, que nos achamos sempre ser os “Caras!”. Na verdade nós não nos damos conta que tudo que influência nosso imagético-imaginário, é o mesmo que influência a eles. Eles vêem TV, eles andam pela cidade cheia de publicidades, eles dão uma olhada - mesmo que rápida, como nós - em jornais e revistas, eles acessam a internet para baixar clipes de música da Madonna (sem saber eles conhecem a obra de La Chapelle melhor de que nós)... “Eles”, esse “povão” sem arte nem parte, que queremos educar, nos ensinam muitas coisas e nos espantam, as vezes, com a qualidade de suas obras. 


© Angela Gabriela Monteiro de Oliveira - ClicaMaravilha

Mas somos sempre nós, os educadores, que vamos amostrar e falar de suas obras - que surgiram “graça a nossa dedicação” - nos festívais, nas universidades, nas entrevistas aos jornais. “Eles” aparecem poucas vezes, em geral são tímidos, não sabem falar muito bem e em geral é até melhor eles se calarem, pois pode sair algumas besteiras por aí. 
Ainda bem que de nossas bocas nunca sai nada errado!

Então, como fica a tal dessa inclusão? Quem vai ser de verdade incluído? Nós ou eles? 
Na verdade: quem lembra somente um nome desses "fotógrafos-aprendizes"? Todo mundo lembra do nome do projeto e dos seus representantes, mas nada desse meninos que passam por aí...

Traduzindo Augusto Pieroni, “Ler a fotografia” :
Como faz uma sub-cultura para render-se visível? Para render-se visível dum jeito “oficial”, prestigioso? Como ter acesso a comunicação visual? Simples: assumindo os “jeitos” - os fazeres (desculpem, não consigo traduzir muito bem) - culturais da cultura dominante. Ao menos de não ser um “artista”, um “intelectual” no lugar e momento certo, que tem acesso à comunicação, que consegue articular seu discurso nos modos e nos “médium” que lhe interessam, consciente que sua identidade sempre será, de alguma forma, escrava de clichês e de modelos que lhe são estranhos”. (Fim da citação)

O querido Senhor Carlos Carvalho que, no final, não me convidou a seu Festival escreve (com alguns erro de digitação... não só a única, uff!) :
“Há alguns anos, sem conseguir precisar quando mas sentido que acontecia, percebi que não podia intervir na vida das pessoas com o meu equipamento fotográfico, a minha presença, a minha cultura e a minha arrogância, mas sim tentar ser útil a elas. Antes de entrar em uma comunidade e iniciar uma documentação fotográfica me faço três perguntas básicas: 

- porque fotografar essas pessoas - o que acrescento a elas com o meu trabalho?

- em que a minha fotografia e o meu trabalho vai ser útil – que tipo de auxílio vai ser possível com a minha atividade?

- existe realmente algo a ser feito nessa comunidade que possa melhorar a sua qualidade de vida – minha documentação fotográfica tem espaço nessa realização?

Se não obtver resposta para uma dessas perguntas, guardo meu equipamento e procuro apenas merecer a atenção e amizade que me forem ofertadas. Aprendi a criar meu arquivo fotográfico mental e esse exercício mental ajudou a aperfeiçoar a minha luz. Não realizo exercício estético com a vida das pessoas.
Como sabemos, fotografar significa grafar com a luz, escrever com a luz. O que não sabemos é escrever e qual linguagem utilizar para sermos honestos e coerentes com quem fotografamos e perceber como eles querem ser documentados.
E esse aprendizado é uma via de mão dupla.
Todos nós somos pontos de luz e nos movimentamos em nossas vidas emitindo a luz que sensibiliza o celulóide emulsionado que nos permitirá gravar para sempre momentos e vivências. Quanto mais buscamos entender os caminhos dessa luz social, mais refinada fica a nossa escrita, a nossa linguagem fotográfica, porque mais simples. É o que busco - encontrar a luz social que vai me permitir dialogar através de uma linguagem percebida por todos. E essa luz é conseqüência do resultado de um aprofundamento das relações pessoais. É uma luz “Freiriana”.
Este site é uma tentativa de mostrar esse exercício e de possibilitar uma ligação mais direta entre essas comunidades e suas atividades, com pessoas e organizações que tenham disponibilidade de apoiá-las política, social e financeiramente”. (Fim da citação)


© Carlos Carvalho: A imagem do indiozinho Xerente, tribo do estado de Tocantins abandonada pela Funai, é sua imagem preferida, um presente pessoal, captada em 1987.

Esse ser humano cheio de luz de varios tipos (luz pessoal, luz social, luz “freiriana”, falta só a Companhia Elétrica, mas acho ele já conseguiu esse apoio), que tenta encontrar - como todos nós - respostas à suas perguntas básicas quando inícia uma documentação fotográfica, não se pergunta a coisa mais importante:

"Estou sendo sincero 100% comigo mesmo e com os outros? Ou será que eu me faço todas essas questões porque sinto-me culpado de algo que não sei ao bem como definir?" 
(Umas das causas pode ser essa foto que ele adooora e que é seu presente - a quem? -, onde é flagrado "um indiozinho "). 
Todos esses blablablas meios “iluminados” e meios “melosos”, me deixam com raiva. Espero o Senhor Carlos Carvalho ter - pelo menos simbolicamente - adoptado esse "indiozinho" - que definição horrível ele deu a essa criança abandonada, com sua tribo, pela Funai.
E, meu querido Senhor Carvalho, depois de tirar essa foto - sua foto "preferida" -, o Senhor deixou o menino lá naquele mundo, abandonado a sua sorte? 
"Obrigado meu querido, tirei uma foto legal de vc e vou colocá-la numa Galeria de Arte espalhada aí pelo mundo. Sua contribuição foi grande. Vc virou o "indiozinho" sem nome, filho da Funai e de Fulano. Vc ficou famoso. Eu tmb, obrigado. E não esqueça. O mundo inteiro vai ver vc e falar da situação dos seus pares. Eu estou ajudando a melhorar o mundo. Então, me respeite, viu? " 

Tentamos ser honestos de verdade uma vez por todas. Chega de conversa barata!
Vamos nos dizer uma vez por todas:
“Eu” estou curioso de saber como vive a outra metade do mundo. “Eu” gosto da adrenalina que essas coisas “perigosas” - entrar numa favela, na Amazonia ou no Afganistão - trazem consigo. No fundo, “ EU” me sinto bem em ver que não estou tão mal na minha vida.... Claro, minha conciência me diz que devo fazer algo para ajudar os outros, pois estou numa situação melhor e gostaria de viver em uma sociedade mais justa, onde todo mundo se dá bem. Isso seria melhor para todos, assim “EU” poderia sair fotografando pelas ruas sem medo de ser assaltada. “EU” poderia pensar em coisas mais leves que não essas problemáticas sociais que atrapalham a todos. “EU” poderia fotografar o pôr-do-sol e as belezas de Ipanema sem que o mundo pensasse que “EU” sou superficial....


© Francesca Nocivelli. Beira Mar, Fortaleza

Quando eu entro na favela e fotografo seus moradores, eu, gringa, estrangeira, de olhos azuis, com penteado parecido à Amy Whinehose, sou vista como uma coisa estranha. Não me escondo atrás de uma barba tipo Che ou PT, como gostam muitos fotografos sociais (posso pensar em fazer isso futuramente!), ou tirando meu cabelo num rabo de cavalo que me deixe mais “normal”. Eu sou o que eu sou, as vezes me sinto totalmente “não incluída”, não tenho nenhum problema com isso, até gosto disso, pois isso é meu diferencial. Muitos se perguntam o que eu faço por aí, vários moradores acham que vou vender suas fotos por milhares de euros na Europa, muitos pensam que eu estou só tentando aproveitar ou que eu sou louca mesmo. 
Nem eu sei ao bem o que eu faço por aí. Tenho sentimentos contraditórios, de ódio - amor, tenho um trabalho que me deixa louca mas que, quando menos estou esperando, me faz muito feliz. Tenho problemas de comunicação, pois a gíria da Comunidade é complicada, mas ao mesmo tempo a linguagem sem palabras - as dos sentimentos - é inesperadamente mais verdadeira. 

Quais as diferencias entre a nossa visão e a deles?
Uma outra questão que surgiu no debate do Ripper foi a diferência entre:

1) a sua própria visão, fotográfo que entra num mundo alheio - fotos de denúncias às autoridades, ao poder público, à miséria;

© Ripper, trabalho escravo


2) a visão das mídias - a favela vista somente como fonte de violência, de tráfico, de conflitos;
© BahiaPress

3) a dos integrantes do projeto “Escola de Fotografia da Maré”- fotos que mostram um dia-a-dia normal, a alegria dos moradores do morro, a vida cotidiana como em qualquer outro lugar.

© Renato Diniz - Imagensdopovo

E aí todos a por-se questões “filosóficas”, a se perguntar porque e por como... 

Olhando em nossos próprios albúns de família o que nos vemos? Fotos de aniversários, casamentos, festas, reuniões famíliares.... Será que de nossa vida nos fotografamos cotidianamente doenças, mortes, violência (apesar de ter uma escola nisso chefeada por Nan Goldim, Larry Clarck e Alberto Garcia-Alexis)?
Se nosso filho cai e devemos levá-lo urgentemente no pronto soccorro pois quebrou a perna... será que paramos para pegar uma foto-lembrança ou vamos correndo no hospital? E daí, o que esperamos dos integrantes dessa família que é a “favela?” Que eles fotografem todas as merdas, ou que eles tentem se lembrar, como todos nós, das coisas bonitas da vida?

Depois dos arte-educadores e dos "incluidores" visuais, chega hoje no mercado um novo modelo: o educomunicador (palavras dificil de pronunciar!), armado de cellular-camâra digital-vídeo, que estreita parcerias com as lan-houses locais e dá aula de artes multimídias para os “meninos da favela”. Estamos assistindo a uma proliferação intensa de cursos nas Comunidades ditas carentes, projetos que visam “mostrar que lidar com a imagem - seja analógica ou digital, profissional ou amadora - tornou-se algo universal” (Vida & Arte, O Povo, 05/04/2009). Dos adolescentes entrevistados não tem um que já não postou fotografias e vídeo na Orkut ou no Flicker. 
Aí de nós!!!

FESTFOTOPOA

Deixei resfriar a cabeça... tenho milhões de outras coisas para pensar..
mas queria colocar algum "pontinhos nos i", como se diz na minha terra

então... lá vai uma bela carta para o Senhor e patrão do FESTFOTOPOA

Só para explicar um pouquinho
enviei trabalhos nesse festival em 2008 e.. ganhei! com laudos e aplausos... até abriram uma exeção por mim: todos os três trabalhos enviados foram escolhidos!!! enfim... No regulamento estava marcado que, como prêmio, "o fotografo seria convidado no ano seguinte". Ótimo! Aguardei a chamada... que nunca veio. Aí resolvi entrar em contato com o Senhor Carlos Carvalho, organizador desse Festival. 
Ele me respondeu que o prêmio não era o fotografo ser convidado, mas sim seu trabalho. 
Eu retoquei que o regulamento não dava a intender dessa forma. Pois bom, depois de uma troca de mails, ele aceita enfim bancar minha passagem e me convidar numa palestra sobre Fotografia e Inclusão Social (essas coisas ultimamente me arrepiam.. um dia desse explico porque), ao lado do Ripper e dos integrantes da Boca de Rua. Convite aceito: na euforia chamo alguns fotógrafos que fazem um trabalho parecido ao meu em Fortaleza para apresenta-los junto com meu trabalho nesse lindo Festival. Mas nosso querido organizador está muito enrolado e no final me envia somente um orçamento da passagem... nunca vi a passagem e nunca cheguei em Porto Alegre para participar da mesa redonda, do Festival nem nada...

Sua ultima mail dizia
"Francesca
Você não faz a menor idéia do que está acontecendo aqui.
Não aceito suas críticas.
Desculpe por ter enchido seu saco com isso.
Num outro momento falamos.
Abs"

A minha crítica era ao respeito de regulamentos sem sentidos e organização fraca (passei uma tarde inteira no aeroporto esperando um vôo que me levasse na tão querida Porto Alegre!)

Nunca voltamos nos falar, claro. Acabou o Festival, acabou a discussão (segundo ele)

na prox coloco o texto